Entre as doenças oculares, é importante entender sobre a atrofia progressiva da retina em cães. Isso porque, trata-se de um dos principais problemas ópticos que atinge os pets.
Por essa razão, o Clube para Cachorros entrevistou o veterinário Thiago Ferreira. Especialista em oftalmologia canina da Graefe Von Vet, o médico conta o que é a atrofia, quais são os sintomas e as causas do problema.
Além disso, o veterinário oftalmologista explica como deve ser feito o diagnóstico da doença. Também fala sobre formas de retardá-la e os cuidados que os tutores devem ter com animais já sem visão.
O que é atrofia progressiva da retina em cães?
A atrofia progressiva da retina (APR) é o mesmo que atrofia generalizada da retina. De acordo com Thiago Ferreira, trata-se de uma doença degenerativa das células chamadas fotorreceptores.
De uma maneira geral, esse problema atinge os cones e os bastonetes. “A doença se inicia de maneira sorrateira uma vez que no início não demonstra lesões que possam ser perceptíveis pelo responsável pelo animal”, explica o veterinário.
Ainda segundo o oftalmologista de cães, todo o processo da doenças é causado por falhas genéticas no metabolismos dessas células. Em outras palavras, “essa falha genética está ligada a diversos genes (porção específica do DNA).”
Consequentemente, há a morte das células. “Grande parte das vezes inicia pelas células responsáveis pela visão noturna, os bastonetes, e com a evolução do quadro também afeta as células responsáveis pela visão diurna, os cones”, esclarece.
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Sintomas da atrofia progressiva da retina
Como já mencionado anteriormente, os bastonetes são as células responsáveis pela visão noturna. E como essas células são as primeiras a serem atingidas, é comum que o primeiro sinal do problema seja a dificuldade do cão para enxergar no escuro.
“Outro sinal comumente visto é um brilho verde intenso no olho do paciente portador. Isso ocorre porque a pupila se mantém dilatada e expõe uma região do fundo do olho chamada zona tapetal, presente na maioria dos animais”, alerta Thiago Ferreira.
Contudo, o avanço da doença coloca em risco a visão geral do animal. Por isso que o oftalmologista, adverte os tutores a respeito das consequências da APR.
“Alguns animais nas fases mais tardias da doença desenvolvem catarata pelo fato de a retina degenerada liberar toxinas que causam catarata. Nesta fase da doença poucas opções nos restam para retardar a cegueira.”
Além da catarata e da cegueira, em casos mais raros a inflamação severa pode evoluir para glaucoma.
“O brilho verde por vezes não é percebido, mas se acaso o responsável notar com frequência o brilho, sendo que nunca havia visto, é prudente levar o paciente até um veterinário oftalmologista”, recomenda Thiago Ferreira.
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Diagnóstico e tratamento desse problema
Diante dos sinais constatados pelos tutores, a melhor alternativa é buscar um especialista. “O diagnóstico inicia-se com o exame clínico, onde por meio de um teste chamado reflexo fotopupilar cromático conseguimos avaliar se os fotorreceptores estão respondendo bem”, conta o médico.
Assim, o oftalmologista sabendo do histórico do paciente e com os resultados do exame pode ter um posicionamento.
“Sinais específicos na própria retina também são vistos ao exame clínico sob oftalmoscopia. Em algumas situações é possível que seja necessário um exame complementar chamado eletrorretinografia, que avalia por meio da atividade elétrica da retina se ela está ou não saudável.”
Ainda segundo Thiago Ferreira, para a atrofia progressiva da retina não há cura. Desse modo, a solução dos veterinários é usar de alguns tratamentos. Contudo, eles são um pouco controversos, mas podem ajudar a retardar o progresso da doença.
“Esses tratamentos se baseiam na atividade anti-oxidante de alguns compostos específicos. Pesquisas recentes têm utilizado vírus mutantes que ‘corrigem’ a falha genética desses animais, mas ainda são necessários mais estudos para podermos chamar de cura”, finaliza oftalmologista.
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Raças propensas a doença
Mesmo que qualquer animal possa desenvolver a atrofia progressiva da retina, algumas raças têm mais predisposição. Segundo Thiago Ferreira, na rotina da clínica em Santa Catarina, as raças mais propensas são:
- Cocker spaniel;
- Poodle;
- Pinscher;
- Shih-tzu;
- Setter irlandês;
- Border colie;
- Collie;
- Labrador;
- Yorkshire;
- Schnauzer;
- Whippet.
Além desses casos, o veterinário oftalmologista ressalta que a raça husky siberiano também tem mais chances de desenvolver APR. Nesse caso em específico, devido a presença do cromossomo X.
Cuidados com os cães cegos
Como já visto, a atrofia progressiva da retina pode causar cegueira nos cães. Nesses casos, é indicado que o tutor tenha alguns cuidados extras com esses animais.
Não mudar os móveis
Por isso que o médico veterinário da Graefe Von Vet, recomenda algumas iniciativas por parte dos donos. A principal delas é mudar o menos possível os objetos da casa de lugar.
Como os cães enxergavam antes, eles não vão ter muita dificuldade em aprender a se locomoverem dentro de casa. Mas existem outros métodos que podem ajudar.
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Uso de coleiras especiais
“Coleiras para cães cegos que possuem um arco posicionado a frente da cabeça do animal também auxiliam na locomoção. Para algumas pessoas não agrada o fato de o animal bater com o arco em objetos, mas temos que lembrar que se ele não bater o arco, poderá bater com o focinho ou mesmo com o olho”, recomenda Thiago Ferreira.
Uso de adesivos com odores
Além dessas medidas, o veterinário recomenda o uso de adesivos com odores pela casa. Em alguns lugares esses itens são mais necessários, como em obstáculos ou degraus.
“O ideal é que seja o mesmo odor em todos os locais perigosos. Existes produtos de odor suave e por vezes fraco para seres humanos, mas bem perceptíveis para cães”, complementa o especialista.
Rotina de passeios
Por fim, o oftalmologista recomenda que os tutores realizem passeios com os cães. Inclusive, com eles usando a coleira com arco e guia.
“Temos que lembrar que a perda visual, mesmo que lenta, pode causar extrema tristeza ou ansiedade em alguns animais. O passeio pode aliviar e muito esse stress, mas claro, deve ser feito com muito critério”, finaliza o veterinário Thiago.
Assim, colocando em prática todas essas dicas, o tutor consegue oferecer mais qualidade de vida ao cachorro. E entendendo sobre a atrofia progressiva da retina em cães, pode ajudar a retardar esse problema.